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Karai Popygua

David Fernandes Martim

28 anos

Indígena do povo Guarani M'bya de São Paulo, nascido na Terra Indígena do Jaraguá, a menor terra indígena do país, com 1,7 hectares onde vivem 700 Guarani.

Cresceu ouvindo sua avó, Cacique Jandira Kerexu, por quem foi profundamente influenciado e inspirado. Ela, grande guerreira, foi reconhecida por ser a primeira mulher Cacique de que se tem registro na história do país, defendendo o povo Guarani, sua cultura, a demarcação e reconhecimento de seus territórios. Em 2012, com o triste falecimento de sua avó, sua maior referência de liderança e luta pelo seu povo, resolveu encarar e dar continuidade, com toda coragem e força, à luta iniciada por sua avó.

Estudou em escola pública até o final do ensino médio, e durante este período conheceu a realidade da educação escolar dos não indígenas, os juruás [nome dado aos não indígenas, na língua Guarani].

Foi na escola dos juruás que percebeu que tudo que era ensinado sobre os povos indígenas estava muito distante da realidade histórica dos povos originários, e que a escola contribuía para o aumento do preconceito, da discriminação e da invisibilidade da megadiversidade cultural do país.

Pablo Pascar

Um momento marcante, no período escolar, foi o acontecimento da morte do indígena Pataxó-hã-hã-hãe em Brasilia. Galdino Jesus dos Santos [Bahia, 1952 - Brasília, 20 de abril de 1997] líder indígena brasileiro que foi queimado vivo enquanto dormia em um abrigo de um ponto de ônibus em Brasília, após participar de manifestações do Dia do Índio. O crime foi praticado por cinco jovens daquela cidade. Neste ano, cursando a 4a. série, na época ensino primário, conheceu o significado do preconceito ao ser recebido por seus colegas de escola às gargalhadas e brincadeiras em referência a este crime hediondo, com ditos como:

"Seu pai morreu queimado!"

"Benfeito pro seu pai!"

"Índio tem que morrer queimado!"

Em 2008 ingressou na Faculdade de Direito pelo ProUni, conseguindo dar o primeiro passo no sentido de realizar o sonho de se tornar advogado. Porém, encarou este desafio sem recursos para manter os estudos, acrescida a dificuldade do transporte entre a aldeia e a faculdade (percurso de 3 horas), vendo assim que seu sonho se tornara de difícil conclusão. 

No segundo semestre acadêmico, chegou ao limite de esgotamento físico e mental, quando conciliava trabalho, militância como liderança da comunidade e o período de estudo na universidade, chegando a uma sobrecarga que o levou a graves problemas de saúde. Por conta do pouco tempo de sono e repouso sofreu com uma enxaqueca que resultou em 02 ataques cardíacos.

​Sem auxílio de bolsas de estudos e falta de apoio para continuar esta trajetória, deixou a faculdade e se dedicou a um tratamento intensivo para recuperar seu equilíbrio e saúde.  

Thiago Carvalho

De 2009 a 2015 lecionou na escola indígena da aldeia onde contribuiu para a formação dos alunos. Aliviado por perceber que nesse contexto as crianças estavam livres do preconceito que sofreu na sua infância, presenciou e fez parte de um processo em que a escola passou a ser usada como uma ferramenta de resistência do povo Guarani.

Período de reconhecimento que a escola foi uma conquista resultante da luta das lideranças mais antigas do povo Guarani, observou com clareza que os acontecimentos em favor do seu povo eram também conquistas próprias, e não presentes dos juruás.

Ficou reconhecido no movimento indígena como uma liderança jovem com muito empenho e responsabilidade com a luta do seu povo.

"Os grandes guerreiros são feitos pelos maiores motivos!" - frase de inspiração criada em 2016 após um sonho.

Aprendeu com os Xeramoi kuery (os líderes espirituais, pajés, do povo Guarani) que, para cumprir a sua missão de liderança e representante do seu povo, precisava equilibrar o conhecimento entre os dois mundos, o dos brancos e o do seu povo, e que a vida dos povos indígenas, na conjuntura atual, está extremamente ameaça pelo poder maior dos juruás, o Estado.

Em 2013 faz sua primeira viagem à Brasília. Há muitos anos recebia convites, mas esperava sua maturidade e confiança para ingressar na luta nacional junto às grandes lideranças, como o indígena Galdino Pataxó, sua inspiração até os dias de hoje.

2014, em um fato lamentável na luta contra a PEC215 (Projeto Emenda à Constituição que transfere o processo de demarcação do poder executivo para o poder legislativo, acabando com a conquista dos povos indígenas da Constituição de 88, que garante a demarcação de suas terras) foi preso durante um protesto no Congresso Nacional.

Neste vaivém de assembleias, audiências, e idas à Brasília, identificou a falta de representatividade política dos povos indígenas nas estâncias do poder nacional, vendo a situação do seu povo agravar-se em prisões, assassinatos e mais de 150 projetos anti-indígenas que tramitavam no legislativo. 

No mesmo vaivém, conheceu pessoas que percebiam a realidade da forma que a havia identificado e se mostravam solidárias. Ampliou, assim, sua visão sobre os juruás e também seu grupo de convívio trazendo, para perto de si e de seu povo, pessoas empenhadas em compreender e apoiar a causa indígena.

2015 foi o ano que optou por disputar as eleições municipais do ano seguinte. Filiou-se ao PSOL após perceber que os parlamentares do partido estavam mais próximos aos seus propósitos e defendiam os direitos indígenas no congresso como, por exemplo, na luta contra a PEC215. Viu o PSOL como um partido de luta que defende a política indigenista no Brasil, e com ele se identificou.

De toda essa trajetória, sua motivação à vida política se dá pelo incentivo de seu povo para que concorresse a uma eleição, para que respondesse a essa falta de representatividade com uma ação efetiva e o êxito nesta caminhada, entende, que somente com o apoio dos juruás conseguirá conquistar.

Sua visão sobre a política traz novo olhar para o triste cenário atual. Um olhar de quem carrega no sangue a certeza de que a atenção e o trabalho coletivos geram frutos e riquezas maiores, e mais importantes, que aqueles que hoje nos são vendidos como essenciais.

Sua campanha é baseada na escuta, no olhar atento, na compreensão das necessidades, pois as reconhece por tê-las vivido. É campanha baseada no sonho de um mundo melhor e mais justo. Sonho que considera a sabedoria de seu povo, o quanto esse tem a contribuir e está disposto a compartilhar. Sonho a ser construído em companhia, nas boas parcerias, entre pessoas que sonham um mesmo ideal e que caminham juntas A FAVOR de algo mais amplo, ao benefício de todos.

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